Zica Capristano

Quando em 2012, ou seja, ha uma década faleceu inesperadamente, escrevi na Gazeta das Caldas: “Conhecemos Zica Capristano através do seu pai, Artur Capristano, na segunda metade dos anos 70, quando ele iniciou as suas aventuras da volta ao mundo para fotografar gentes e civilizações”.

O seu pai, que foi um notável industrial caldense do transporte rodoviário e autarca no período Marcelista, renovando esta experiência autárquica no pos-25 de abril, teria poucas razões para ter uma ligação de conhecimento e amizade connosco. Contudo, quis o destino que fosse o inverso que acontecesse e a Sua última experiência autárquica nas Caldas da Rainha deu-nos o ensejo de o conhecer melhor e manter com ele uma relação de amizade bastante interessante.

Tal relação transmitiu-se ao filho, Zica Capristano, que a partir daí passou a partilhar connosco as suas iniciativas, que foram muitas e variadas, desde as suas continuadas imersões nos vários continentes, as obras que ia publicando, como memorial das suas experiências.

Ainda agora se preparava para apresentar aos caldenses o resultado de uma exposição de fotografia que havia realizado com êxito em Lisboa – ”Símbolos Fálicos no Mundo”. Soçobrou ingloriamente a doença.
Contudo, nestas ultimas semanas, quando o seu estado se agravou, manteve sempre uma vontade enorme de vencer, bem como de vir a abertura da exposição. Já não seria possível. Mas fica a sua lição de vida de ligar gentes, mundos e culturas e de as valorizar através da fotografia.”

Por tudo isto, e com enorme honra e saudade que relembramos Zica Capristano, nascido em 1946 e que ao longo da sua vida, quis ser aquilo que muitos de nos gostaríamos de ter sido e vivido. Um viajante inveterado, que queria conhecer o mundo para melhor o interpretar e trazer a luz do dia as imagens mais improváveis como cruamente verdadeiras, e muitas delas belas, apesar da sua dureza, mas nalguns casos, também ternas e reconciliadoras com a Sociedade Humana.

O Observador do Homem e das suas comunidades

Caldas da Rainha,
1946 – 2012

Quando em 2012, ou seja, ha uma década faleceu inesperadamente, escrevi na Gazeta das Caldas: “Conhecemos Zica Capristano através do seu pai, Artur Capristano, na segunda metade dos anos 70, quando ele iniciou as suas aventuras da volta ao mundo para fotografar gentes e civilizações”.

O seu pai, que foi um notável industrial caldense do transporte rodoviário e autarca no período Marcelista, renovando esta experiência autárquica no pos-25 de abril, teria poucas razões para ter uma ligação de conhecimento e amizade connosco. Contudo, quis o destino que fosse o inverso que acontecesse e a Sua última experiência autárquica nas Caldas da Rainha deu-nos o ensejo de o conhecer melhor e manter com ele uma relação de amizade bastante interessante.

Tal relação transmitiu-se ao filho, Zica Capristano, que a partir daí passou a partilhar connosco as suas iniciativas, que foram muitas e variadas, desde as suas continuadas imersões nos vários continentes, as obras que ia publicando, como memorial das suas experiências.

Ainda agora se preparava para apresentar aos caldenses o resultado de uma exposição de fotografia que havia realizado com êxito em Lisboa – ”Símbolos Fálicos no Mundo”. Soçobrou ingloriamente a doença.
Contudo, nestas ultimas semanas, quando o seu estado se agravou, manteve sempre uma vontade enorme de vencer, bem como de vir a abertura da exposição. Já não seria possível. Mas fica a sua lição de vida de ligar gentes, mundos e culturas e de as valorizar através da fotografia.”

Por tudo isto, e com enorme honra e saudade que relembramos Zica Capristano, nascido em 1946 e que ao longo da sua vida, quis ser aquilo que muitos de nos gostaríamos de ter sido e vivido. Um viajante inveterado, que queria conhecer o mundo para melhor o interpretar e trazer a luz do dia as imagens mais improváveis como cruamente verdadeiras, e muitas delas belas, apesar da sua dureza, mas nalguns casos, também ternas e reconciliadoras com a Sociedade Humana.

Zica poder-se-a dizer que nasceu bem, no seio de uma família abastada e que possuía um imenso império de transportes rodoviários, tendo estudado inicialmente em Portugal e seguindo o seu percurso formativo na Suica, depois na Alemanha e terminando nos Estados Unidos, com uma formação em Antropologia.

Quando apresentou em fevereiro de 2010 nas Caldas da Rainha o seu livro “De áfrica — From Africa — D’Afrique”, recordou algumas das memórias que guardava das Caldas da Rainha, onde viveu até aos 14 anos. Sempre que visitava a cidade, disse que cumpria uma espécie de ritual que incluía passagens obrigatórias pela Praca da Fruta, a Rua das Montras, a Zaira, o Parque, a Pastelaria Machado e o cemitério. Igualmente visitava os amigos de infância e locais, como a Foz do Arelho, onde ia muito em miúdo em passeio de bicicleta.

Não esquecia as regatas no Lago do Parque, os campeonatos de ping-pong e as matinés passadas no Casino (posteriormente Casa da Cultura) “onde aprendi a dançar a valsa, o tango e o cha-cha-cha’”.

Tal como o seu avô, Artur Capristano, Zica conta que tinha uma paixão pelos automóveis e chegou a participar em corridas e ralis por esse mundo. O seu avó era, em 1911, um dos poucos portugueses que sabia conduzir automóveis. Tinha a carta de condução n2 26, o que lhe permitiu iniciar um negocio que o seu filho Artur iria consolidar e transformar num império — a empresa rodoviária Capristano.

No seu livro em que narra a expedição feita entre Lisboa e Macau, no final da década de 80 do século passado, perguntava: “Teremos a pretensão de conhecer o planeta onde vivemos?’ E respondia: “Explorada a dimensão geográfica da Terra, ficou o Homem por descobrir.”

E continuava: “Esse universo sempre em evolução que são as pequenas comunidades, os grupos étnicos que constituem raças, estão ainda, muitos deles, por estudar. E sempre difícil fazê-lo porquanto uma comunidade e a sua cultura estão sempre em mutação, evoluindo ou correndo riscos de desaparecer, em contacto com outras civilizações. E o Homem o último lugar da Terra que resta aos exploradores, que hoje já não são nem oficiais de carreira ou intrépidos cidadãos a procura de louros. Os exploradores do final do século XX são antropólogos e cientistas que, sem perderem o gosto da aventura dos seus predecessores, tem de estar equipados com o conhecimento necessário para avaliar o que observam – O Homem e as suas comunidades’. (in Zica Capristano e Judite Capristano – Lisboa-Macau, ou Portugal-China – Uma expedição do Século XX, Livraria Civilização, Lisboa, 1988)

Jose Luiz A. Silva, diretor da Gazeta das Caldas, janeiro, 23

A SINGELA PRESERVAÇÃO DA SUA MEMÓRIA

O Apelido Capristano(s), como era conhecida a empresa rodoviária da região e o seu terminal em Caldas da Rainha, eram uma presença constante no léxico das populações que a época como meio de transporte utilizavam a “carreira’ nas suas deslocações. Nasci assim a ouvir referências a este apelido durante décadas. Mais tarde, como jovem adulto, foi com surpresa que ao ler em jornais e revistas da época as viagens de Zica Capristano, descobri a sua origem e ligacao as Caldas da Rainha. O que me fazia vibrar, era, no entanto, o relato das suas viagens, paises visitados e a utilização de veículos 4X4 e as suas reportagens fotográficas de povos, tribos e países, dos quais confesso não conseguia sequer localizar no mapa. Era toda uma geografia humana e territorial que me fazia sonhar e desejar inocentemente um dia também eu poder descobrir.

Em comum com 0 Zica desde muito cedo que tenho a paixão pelos veículos todo terreno e pela fotografia. O destino e a persistência levam-me sem pretensões a viajar um pouco por este nosso mundo e a realizar o sonho do deserto. Ao comando de expedições de “destemidos aventureiros’, avidos eles também de poderem descobrir com os seus “Jeep s’ os segredos das nossas origens a sul, no Sahara marroquino, fiz carreira. Por esta oportunidade e estilo de vida, agradeço as Marcas automóveis e aos seus responsáveis que confiaram a mim os seus clientes e, de certa forma, a reputação dos seus veículos fora de estrada, levando muitos outros como nos a visitar paragens de outra forma inacessíveis.

Só tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o Zica no lançamento do livro acima referido que teve lugar no CCC em Caldas da Rainha em 2010. Em boa verdade, não passou de um rápido aperto de mão. O que ficou na memoria para sempre foi o seu entusiasmo na apresentacao da obra, as peripécias de quem se atreve a viajar por estes países e regiões e o seu conhecimento dos povos retratados.

Para nos a figura do Zica Capristano como “cientista da viagem”, antropólogo e fotografo, talvez o único verdadeiro aventureiro português da última metade do século XX, esta esquecida. Como tantas vezes a pátria esquece os seus melhores, pelo que decidimos desde o início deste projeto reservar este espaço na Galeria UMM para lhe prestar homenagem. Foi ao volante do TT nacional “UMM” que aqui se imortaliza, que materializou muitas das suas viagens e aventuras, como a grande expedição Lisboa – Macau, que teve lugar em 1988.

O nosso compromisso é contribuir para a preservação da sua memória e incentivar a pesquisa do seu trabalho cientifico junto dos que nos visitam, sobretudo os mais jovens, quem sabe eventuais globe-trotter.

Carlos Ribeiro, Óbidos Off Road Center

 

AMIZADE E AVENTURA

O Zica foi sempre um homem jovem. Teve uma vida intensa, de paixões, de vontade de conhecer, de aprender, de concretizar sonhos e projectos, de fazer coisas que lhe dessem prazer. Na antropologia, na fotografia, nas viagens, nos automóveis, no convívio com os amigos, que eram muitos.

Deixou-nos muita coisa, mas acima de tudo o seu desejo de viver, a sua paixão pela vida. De entre muitas outras coisas, estarei eternamente grato por dois convites muito especiais que me lançou. O primeiro, a participação no Rally Singapura-Macau, em 2009. Passámos por sete países (Singapura, Malásia, Tailândia, Camboja, Laos, Vietname e China), conhecendo locais e paisagens verdadeiramente únicas ao longo de cerca de 10 mil quilómetros, durante um mês.

O outro desafio foi o privilégio de ter sido convidado para colaborar no seu livro “De África – From Africa – D’Afrique”, onde escrevi o capítulo sobre Água, que está no centro da minha paixão profissional. O Zica concretizou aqui um dos sonhos da sua vida: deixar um livro sobre uma das suas grandes paixões e palco de muitas das suas actividades profissionais, o continente africano! Não conhecendo África comparado com o que o Zica conhecia, a minha experiência profissional em diversos países africanos possibilitou-me não só o conhecimento, mas também a percepção da importância histórica deste recurso vital para a vida e o desenvolvimento deste continente. Empenhei-me da melhor forma que consegui, como retribuição da amizade e atendendo ao empenho que o Zica tinha colocado neste seu livro.

Infelizmente, só nos conhecemos cerca de dez anos antes de nos deixar. Mas foram dez anos de grande amizade, de convivência quase diária. Não tenho dúvidas em afirmar que foi um dos meus melhores amigos.

António Carmona Rodrigues

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